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out 06, 2020 editorial Destaques, Opinião 0
*Maria José Giaretta
Primeiramente é preciso fazer um breve resgate histórico sobre a formação do Bacharel em Turismo e do profissional turismólogo.
Neste sentido o curso de bacharelado em turismo foi implantado no Brasil na década de 1970, a partir do parecer 35/71, que em seu Artigo 1º. constava que: a formação em nível superior de profissionais para o planejamento e organização do turismo seria feita pelo curso de graduação em turismo.
Perfil este que foi alcançado em pequena proporção, por esforços dos turismólogos, uma vez que o planejamento, está vinculado a gestão pública e por falta de regulamentação profissional e/ou criação do cargo nas organizações públicas, as quais tem como uma das atribuições a elaboração de planos de desenvolvimento turístico, assim como de elaboração das políticas públicas e o respectivo monitoramento e por ficar na maioria dos casos no país a cargo do poder público, fica na possibilidade do cargo de confiança ou indicação, portanto fragilizado por descontinuidade dos programas assim como por troca do corpo técnico de especialistas de turismo e pelo escasso domínio técnico a respeito da importância econômica e social da atividade.
A pandemia causada pelo coronavírus (Covid 19) causou impacto econômico social muito forte para a área, primeiro porque assim como em outras pandemias, a circulação de pessoas espalha o vírus, mas por outro lado mostrou a quantidade de empregos e sua importância econômica social ao país, e como nosso país poderia ser melhor trabalhado, assim como escancarou a real situação da saúde, saneamento básico e desigualdade social.
Devemos lembrar que a década de 70, foi a do período do milagre brasileiro, Brasil tri campeão da Copa do Mundo, Pra frente Brasil, período do regime militar, ampliação do ensino em regime privado, decorrente da reforma de educação de 1968, pois até então as escolas privadas em sua maioria eram comunitárias ou confessionais; portanto o curso foi implantado nesta conjuntura.
Em 1975, no 1º Congresso Brasileiro de Turismo, realizado em São Paulo, o prof. Dr. Mario Carlos Beni, o decano do ensino de Turismo no Brasil afirmou em sua palestra:
A partir da instalação do I Curso Superior de Turismo no Brasil, a fase de improvisação, adaptação e repentinidade, começa a ser seriamente ameaçada. O turismo improvidente, desgovernado começa a ser criticamente analisado. São muitos os que hoje se preocupam com sua problemática, mantendo-se em permanente atividade de reflexão e vigília. […] O turismo no Brasil deixou de ter somente uma posição política administrativa empresarial e passou a constituir-se também, agora, em um assunto de ordem técnica e científica, e como tal deve ser encarado.
Domingo Hernández Peña, que foi um profissional que contribuiu com a elaboração do 1º Curso superior de Turismo, na Faculdade Anhembi Morumbi, num artigo de 2012, numa publicação da Associação Brasileira de Mantenedoras de ensino superior fez o seguinte questionamento:
Por que, então, no Brasil não há turismo internacional importante e competitivo? A resposta não é, nem pode ser simples. Pois as “culpas” são infinitas e muito complexas. Porém, não há como negar que o Ensino tem contribuído, e muito, ao paradoxo de um país imensamente atrativo, que só consegue atrair uma ridícula demanda turística internacional.
Questionamento este com o desenvolvimento do turismo nacional e talvez uma indignação de que os objetivos previstos na implantação do curso não foram alcançados e poucos profissionais egressos dos cursos puderam contribuir, não porque não quisessem ou não tivessem vocação, mas sim por falta de oportunidade.
Uma 2ª fase do curso de turismo no país foi a década de 1980, época da definição do título Turismólogo, escolhido e eleito pelos Bacharéis em Turismo, num período com dificuldades econômicas, difícil para atividade turística, década em que se criou o depósito compulsório para viagens ao exterior, acreditando que o brasileiro viajaria mais internamente; período com programas das políticas públicas como: os Porões de entrada, Brazil Air Pass, e década da Constituinte, e no mesmo ano que se a Embratur definiu 1987 “Ano Nacional do Turismo”, em que se dá a criação da Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais de Turismo a (ABBTUR) entidade nacional e ocorre uma acomodação dos profissionais ocupando espaços no Trade Turístico, assim como a participação nos conselhos municipais e estaduais do Turismo, e participações importantes como na criação de convention bureau, participação nas “diretas já”, e neste período se abria um leque de alternativas e maturidade profissional.
Também se faz importante resgatar que nesta década o Conselho Federal de Educação (CFE) tratou de conter a expansão da criação de vários atos administrativos que argumentavam a qualidade e cursos superiores, aqui no caso, não só os de Turismo mas todos os cursos de nível superior o que trouxe uma estagnação dos cursos principalmente os de Turismo.
Depois de uma década de muitos acontecimentos, chega a década de 1990, quando explodiu a proliferação de cursos de turismo em todo Brasil, período que chegaram no Brasil grandes cadeias hoteleiras internacionais como grupo Accor, Sol Meliá, Marriot e o turismólogo teve oportunidades tanto na iniciativa privada do trade turístico como uma forte atuação no Programa Nacional de Municipalização do Turismo, quando o Turismólogo avança pelo país trabalhando com planejamento participativo, em trabalhos de sensibilização turística e na academia. A explosão de cursos foi tanta que o turismólogo se formava e começava ministrar aulas na sequência.
A atuação do turismólogo na política pública com o Programa Nacional de Municipalização, se dá desde o momento do planejamento com a equipe de moderadores, com a aplicação da metodologia alemã denominada ZOOP , que é planejamento de projeto orientado por objetivos, que se deu numa cooperação alemã, com o conteúdo da Organização Mundial do Turismo (OMT).
É preciso ressaltar que a década de 1990 foi um período de convergência do neoliberalismo, das privatizações, época de desobstrução ao mercado internacional, da desvalorização cambial, do Plano Real, da instalação da internet, da flexibilização trabalhista, assim como do desmonte do mundo do trabalho. Consta ainda nos dados do Diese como um período de desemprego, já causado pela automatização das máquinas, assim como pelos processos de privatizações.
A governança da área de turismo especificamente, começa com a Secretaria de Desenvolvimento Regional e EMBRATUR, de 1990 a 1992, Ministério de Indústria, Comércio e Turismo de 1992 a 1996 passando para o Ministério de Esporte e Turismo em 1996, até 2002.
Os principais fatos que aceleraram o turismo no Brasil na década foram: a desregulamentação da tarifa aérea doméstica, em 1992, o evento mundial Eco 1992, que produziu a Agenda 21, a eliminação das restrições de navios de cruzeiros marítimos na costa brasileira.
Depois tivemos uma virada neste século, começando com os ataques de 11 de setembro de 2001, onde o principal papel dos turismólogos foi trabalhar em mudanças de destinos.
Em seguida tivemos a eleição presidencial em 2002 e em 2003 foi criado o Ministério do Turismo, que mesmo sem prever orçamento, juntamente com o corpo técnico os turismólogos tive uma forte atuação no Programa de Regionalização do Turismo, assim como atuação no mercado tendo que se adaptar as mudanças tecnológicas. Na sequência tivemos novamente as crises econômicas de 2008, 2015 e agora a Pandemia que devastou a atividade turística no mundo, onde todos os profissionais estão tendo que se reinventar e a pergunta que não cala: Qual será o papel do turismólogo na reestruturação do turismo?
Mesmo antes da Pandemia (Covid19) a ONU, durante o Word Economic Forum (WEF), já tinha definido como habilidades do turismólogo : Flexibilidade cognitiva (Ampliação no modo de pensar; Negociação – Habilidades interpessoais; Orientação para serviços – orientação ao consumidor; Julgamento – tomada de decisão , leitura e interpretação de dados; Inteligência emocional – empatia; Colaboração; Saber gerenciar pessoas; Criatividade – conectar informações diferentes e Pensamento crítico – raciocínio lógico.
Diante destas demandas profissionais, o turismólogo no período de pós pandemia, depois do isolamento físico causado pelos riscos de contaminação do vírus ( causador da Covid19) será um profissional flexível e com forte capacidade para atuação na prestação de serviços, principalmente no processo de orientações e informações, principalmente nos destinos, ou seja na orientação sobre a oferta do destino.
Segundo o futorologista, Yan Yeomann, o turismo pós-covid abordado numa live em 29 de maio de 2020, para o veículo Panrotas, afirma que:
“As tendências são de desacelerarão após a crise na atividade turística, pós pandemia, como busca por experiências radicais, queda do respeito por governos e menor materialismo. Estas interrupções por sua vez vão causar uma oportunidade crescente para busca pela simplicidade, para liderança e especialistas, e para o pensamento coletivo e o turismo social e de voluntariado. Yeoman afirmou que a pandemia está mudando os valores e comportamentos das pessoas, que tenderão a buscar simplicidade, turismo familiar, segurança e viagens curtas.”
Conforme o pensamento deste futurologista, o turismólogo atuará junto as novas formas de viagens, no planejamento sobre a nova forma de viajar.
O prof. Mario Carlos Beni, na live realizada pelos cursos de hospitalidade e turismo, do Grupo Ânima, afirmou que o turismólogo deverá ter uma visão holística e hologramática, numa interação entre mundo real e virtual.
O turismólogo deverá alimentar e tratar informações no mundo tecnológico, com biometrias, reconhecimento de voz, pagamento por aproximação com uma smart pulseira ou com celular, instrumentos de geoprocessamento, de localização e informações captadas por ferramentas digitais em tempo real possibilitando a pulverização da demanda se usados integrados com outros veículos de comunicações, da mídia social, falada e televisiva, onde os programas induzem o turista a frequentar lugares mais tranquilos.
O profissional vai ser o elo de relação entre pesquisa de campo do real com as ferramentas da tecnologia e a informação aos viajantes.
Por exemplo, até o momento, o turismólogo ia a campo para fazer inventário turístico, leitura de paisagem; neste momento de transição, de aceleração tecnológica, usará as imagens de paisagem, captadas por drones por exemplo. Equipamento este que já está sendo usado para transportes de pequenos volumes e já usado no delivery de alimentação.
De acordo com Marquesone, o desafio do profissional será se familiarizar com o Big Date, principalmente em relação aos fatores: volume de informações, variedade e velocidade e no pós pandemia deverá se preparar para usar todas as ferramentas tecnológicas para planejar, preparar e gerir a atividades turísticas em destinos turísticos.
É preciso levar em conta ainda, que a atividade turística precisa deste profissional preparado para um novo tempo e novas formas de viajar, na busca de lugares mais sustentáveis em harmonia com a natureza.
Por fim o Brasil é um país diverso, rico em recursos naturais e culturais e o turismo poderá contribuir par a recuperação da econômica, principalmente se os brasileiros conhecerem o Brasil e se a área buscar marcos regulatórios justos para todos, principalmente se o brasileiro consumir de empresas brasileiras, recolhedoras de impostos e geradoras de emprego.
*Maria José Giaretta, bacharel em Turismo pelo UNBERO, mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, doutora em Ciências Sociais pela PUC/SP, docente do curso de Turismo da Universidade São Judas Tadeu
Referências.
MARIANHÃO, Christiano Henrique da Silva. A trajetória histórica da institucionalização do turismo no Brasil. Revista de Turismo Contemporâneo – RTC, Natal, v. 5, n. 2, p. 238-259, jul./dez. 2017. Disponível em file:///C:/Users/Maria%20Jos%C3%A9/User/Downloads/9522-Texto%20do%20artigo-40069-1-10-20171124%20(1).pdf
MATIAS,Marlene. Turismo formação e profissionalização. São Paulo: Manole,2002.
MARQUESONE, Rosangela de Fatima Pereira. BIG DATE. O novo desafio das empresas e profissionais do mercado. Disponível em http://paineira.usp.br/lassu/wp-content/uploads/2017/01/2017.02.07- Acesso em 25/09/2020.
PEÑA, Domingo Hernandez. O ensino de Turismo no Brasil. São Paulo, 2012. Disponível em https://blog.abmes.org.br/o-ensino-do-turismo/ Associação Brasileira de Mantenedoras de ensino superior . Acessado em 20/09/2020.
REJOWSKI, Mirian. Desenvolvimento do Turismo Moderno. In: REJOWSKI, Mirian (org.) Turismo no percurso do tempo. São Paulo: Aleph, 2002.
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