Última Atualização janeiro 7th, 2025 6:21 AM
mar 15, 2021 editorial Destaques, Opinião 0
*Carolina Ignarra
Pela definição do dicionário “consumidor” significa ‘aquele que adquire mercadorias, riquezas e serviços para uso próprio ou de sua família; comprador, freguês, cliente. Mas, atualizando essa definição, o melhor sinônimo para esse termo ainda pode ir além. Hoje, o consumidor é aquele que além das possibilidades, também precisa usufruir de mais acessibilidade para adquirir produtos e serviços com equidade, de forma justa, segura e sem distinção devido a sua condição, cor, raça, gênero etc.
A digitalização do consumo já estava em transformação, a pandemia acelerou e passou a exigir neste último ano – entre outros desafios – a quebra da barreira de acessibilidade, que excluí alguns consumidores.
Nós, as pessoas com deficiência, também temos direito ao consumo. De acordo com dados apresentados no Fórum Econômico de Davos no ano passado (2020), existe 1,3 bilhão de pessoas no mundo com alguma limitação. Um grupo expressivo de consumidores, não?
Mas, mesmo com esse número significativo, as pessoas com deficiência ainda não são percebidas e respeitadas como consumidoras, diferente de outros marcadores sociais, com números bem menores ao redor do mundo. No Reino Unido, por exemplo, há enorme mercado de ofertas e variedades para 1,4 milhão de veganos, mas não para 13 milhões de pessoas com alguma deficiência na região, segundo os dados do painel apresentado em Davos. Assim como veganos, pertencemos a um nicho específico, mas tão consumidor em potencial quantos os demais.
É preciso lembrar que só no Brasil, de acordo com dados do IBGE, mais de 24% dos brasileiros (46 milhões de pessoas) possuem algum tipo de deficiência e esse público vêm conseguindo espaço no mercado de trabalho, consequentemente aumentando seus poderes de compra. Em um rápido exercício de memória, fico aqui tentando enumerar as barreiras e dificuldades que encontramos para consumir.
A falta de informação sobre o poder aquisitivo das pessoas com deficiência impede o crescimento de ofertas de produtos e serviços para um público que está cada vez mais consumindo. Isso, porque estamos cada vez mais sendo gestores das nossas próprias carreiras profissionais. As possibilidades que estão sendo abertas nas empresas que têm como meta aprimorar suas culturas de inclusão e diversidade, além de simplesmente cumprir a lei de cotas, estão trazendo benefícios inegáveis ao nosso poder de compra.
Lojas, supermercados, serviços, já começam a perceber as vantagens de se tornarem mais acessíveis – especialmente em tempos de pandemia – para impactar positivamente a reputação sim, mas principalmente, porque estão entendendo que a inclusão de consumidores com deficiência como ‘público-alvo’ é estratégica vital para o futuro próximo. Do pequeno comércio de bairro a grandes lojas de magazine, a digitalização imposta pela pandemia foi inevitável e junto com ela a acessibilidade dão novo significado à expressão: “vender mais”.
As barreiras para o consumo ainda são inúmeras e começam a partir da comunicação. De um atendente de telemarketing, um site de compras a uma campanha publicitária, o que nós queremos é saber que somos considerados para a criação e lançamento de um produto ou serviço. As marcas têm se comunicado com demais marcadores sociais como de raça, gênero, comunidade lgbtqia+, religião, mas ainda não encontramos muitas iniciativas que visam atender ao público com deficiência.
A exemplo disso, os bancos de imagens disponíveis chegam a desenvolver conteúdos sobre as pessoas com deficiência, mas de forma inadequada, utilizando modelos fotográficos e elencos que evidentemente não são pessoas com deficiência, provavelmente pela falta de conhecimento sobre esta população. Nós na Talento Incluir, temos um casting enorme e diversificado de modelos com deficiências variadas e reais à disposição para essas ações, mas essa informação ainda não chega à sociedade. Além disso, muitos desses conteúdos insistem em terminologias e expressões que já estão em desuso por não representarem de forma alguma o público mais conectado, moderno e aberto a ser comunicado.
Ao contrário do que os comportamentos capacitistas entendem como verdades, as pessoas com deficiência estão descobrindo um mundo de possibilidades que o comércio ainda não conseguiu acompanhar na mesma velocidade. Não compramos apenas remédios, próteses e órteses, cadeiras de rodas e produtos de higiene pessoal. Queremos e compramos muito mais que isso.
Viajamos nas nossas férias, fazemos turismo onde cabemos e somos bem recebidos. Queremos comprar roupas bacanas, feitas também para atender às nossas expectativas, porém com as mesmas referências de moda que chegam aos demais consumidores. Queremos carros, queremos usar o estilo das estrelas de cinema e as maquiagens que realçam nossa beleza, o perfume para sermos percebidos e o tênis esportivo que combina com nosso estilo.
Aliás, muito mais que ‘ter’ nós queremos ‘ser’ tudo isso! Queremos estar representados como gente que se desenvolve profissionalmente, que brilha, que busca e alcança o sucesso. Sua comunicação, empresas, precisa nos considerar em todas as fases, do desenvolvimento do produto ao seu lançamento no mercado.
A acessibilidade precisa estar nas suas campanhas, nas suas redes sociais e, antes de tudo, na sua cultura. Oferecer produtos de interesse e da forma adequada a diversos públicos e por meios que permitem acesso, sem distinção, é a melhor forma de humanizar as suas relações de negócios. É a mais atual tradução de conexão e respeito com o consumidor.
*Carolina Ignarra, CEO e fundadora da Talento Incluir, consultoria que já incluiu mais de 7.000 profissionais com deficiência no mercado de trabalho
set 09, 2021 0
jan 21, 2019 0
jan 15, 2019 0
dez 26, 2018 0
jan 07, 2025 0
dez 18, 2024 0
dez 12, 2024 0
dez 12, 2024 0
nov 08, 2024 0
Manoel Cardoso Linhares* Em 9 de novembro, comemoramos o...