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mar 13, 2018 editorial Destaques, Opinião 0
* Fabio Steinberg
Diariamente as redes sociais são invadidas por centenas de blogueiros que escrevem sobre viagens e turismo, assim como gastronomia. À primeira vista esta diversidade de divulgações e a democratização da informação parecem uma notícia positiva. As aparências enganam. Por trás da abundância de textos e fotos há pouca seriedade editorial.
A maioria dos blogs camufla viés comerciais ou graves conflitos de interesse. São blogueiros desonestos, pois exaltam ou exageram qualidades inexistentes de estabelecimentos, destinos e produtos que os patrocinam. Prestam assim um desserviço ao mercado, pois colocam no mesmo balaio o bom e o ruim. Na prática, estes pretensos especialistas atendem muito mais seus interesses pessoais e financeiros do que os do leitor.
O bom jornalismo exige isenção e independência, doa a quem doer. No entanto, em setores como o Turismo, esta condição se torna mais espinhosa. Inúmeros fatores conspiram a favor da manipulação dos fatos e dissimulação da realidade. Eis alguns. O deslumbramento com a geografia e instalações de um novo local. O ambiente acolhedor cercado de gentilezas dos anfitriões. A personalidade cativante dos gestores e sua paixão sincera pelo que fazem. Ou, ainda, o charme irresistível e simpáticos brindes dos profissionais de relações públicas que “vendem o peixe”.
Diante de tantos atrativos, não é à toa que hoje em dia qualquer um que goste de viajar, e ainda por cima de graça, queira ser blogueiro. Basta ter algum domínio da escrita, certa desenvoltura social, e saber pilotar um celular que possua uma boa câmera. E eis que surge do nada um “jornalista de turismo”.
SIM, HÁ EXCEÇÕES!
Não me entenda mal! Há blogs excelentes e muito úteis, assim como blogueiros competentes e altamente profissionais. O problema é saber quais são os sérios e quais não merecem crédito. Não há resposta fácil, mas algumas pistas podem ajudar na seleção.
FAÇA O TESTE
1) Desconfie dos textos elogiosos demais, cobertos de adjetivos, ou recheados de marcas comerciais grifadas ou citadas a cada linha. 2) Pule fora de posts com excesso de selfies, autopromoções ou “egotrips”, nos quais o próprio blogueiro se transforma em notícia ou tema central. 3) Se um transporte, alimentação ou hospedagem for oferecida a título de cortesia (afinal nem todos podem arcar com estas despesas) o correto é o autor registrar esta condição, dentro dos princípios de transparência. 4) Não é prudente avaliar a importância de um blog apenas pelo número de curtidas. Assim como linguiças de beira de estrada, ninguém tem certeza de quem é esta gente que está apoiando os textos de pretensos “influenciadores digitais”.
PICARETAGEM EXPLÍCITA
Um alerta aos empresários do turismo: blogueiro sério não pede nem aceita acordos para viajar, dormir, ou comer de graça em troca de divulgação positiva. Infelizmente isto acontece. Eis um exemplo recente. Foi denunciado pelo jornalista de gastronomia Ricardo Castilho, que edita a revista Prazeres da Mesa. Ele recebeu a seguinte mensagem:
“Bom dia senhor Castilho, faço parte da união dos blogueiros, que reúne 15 dos principais blogueiros do Brasil. Queremos fazer uma parceria com vocês. A revista nos convida para almoços e jantares, mas pode ser em degustações também, e fazemos postagens falando da publicação. Se conseguir brindes de vinhos e cervejas melhor ainda. Como a maioria não conhece ainda o DOM, Mani e Fasano, se formos nesses restaurantes garantimos mais postagens. Também seria interessante ganharmos uma assinatura da revista. Para ajudar, também falaremos bem dos vinhos e dos restaurantes. Aguardamos o seu contato, temos certeza de que será bom para todas as partes”.
Nem é preciso dizer que Ricardo rechaçou de imediato este “convite” pra lá de antiético. Mas quantas avaliações fakes não circulam pelas redes sociais enganando consumidores incautos?
*Fabio Steinberg, jornalista, editor do site Viagem e Negócios, Turismo sem Censura
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